Por Thais souza e Marlon Douglas Reis
No dia 14 de novembro, o Restaurante Universitário (RU) da Universidade de Brasília abrigou o Njagun Show, um desfile de moda negra coordenado pelo ator e design de moda Fernando Cardoso, que trabalha frequentemente com figurinos para companhias de dança, teatro e cinema. Para o desfile, Fernando apresentou a Adornos Collection, uma coleção colorida e estampada onde, segundo ele, foram usadas inspirações como a ancestralidade dos povos negros que moravam à beira do Rio Nilo, numa homenagem à beleza da rainha Nefertiti (rainha da XVIII dinastia do Antigo Egipto, esposa principal do faraó Amenófis IV, mais conhecido como Aquenáton, seu nome significa “a mais bela surgiu, a perfeita chegou”). Assim sendo, essas referências ancestrais serviram de mote para o conceito estético da coleção que visa resgatar a influência desses povos na cultura e na arte, especificamente na moda. Além disso, servindo de adorno às malhas, foi trago o simbolismo do Adinkra – os símbolos que são africanos, são uma linguagem pictográfica ancestral, desenvolvidos pelos Akan (grupo cultural presente em Gana, Costa do Marfim e no Togo, países da África do Oeste), que se destacam pela utilização de símbolos para transmitir ideias e são descritos como precursores na criação do alfabeto. “Homenagem ao poder feminino, à beleza negra e ao resgate de um passado para reinventar esse presente e buscar melhorias para o povo afro” disse o estilista ao descrever a coleção. Os modelos convidados são de sua agência FAction Models, uma iniciativa de colocar o negro como protagonista, “São ações afirmativas para criar um novo conceito e trazer uma profissionalização de modelos negros para o mercado da moda” comenta o estilista sobre a necessidade de representatividade no mundo fashion.
Desse modo, a modelo e cantora Natalha Paloma, integrante do AfroAtitude e estudante de Psicologia na UnB, comentou sobre o tema da representatividade: “Foi muito legal participar do desfile, pois há uma cultura hegemônica que só expõe modelos brancos, altos, magros, loiros, com olhos claros e traços finos para desfilar, e mesmo que mobilizações por representatividade tenham se fortalecido, a moda ainda é um espaço muito branco, esse desfile mostra a diversidade na passarela, uma experiência única”.
Por conseguinte, para prestigiar o desfile foram convidados os alunos do projeto “Vidas Negras” da ONU Brasil e alunos do ensino médio do Centro Educacional 310 de Santa Maria, que receberam os modelos com muita euforia e admiração. “Achei o tema muito bom para elevar a autoestima das pessoas negras, que a tem abalada por conta do racismo, gostei muito e sonho em participar de algo assim no futuro” confessa a aluna do 1° ano do Ensino Médio, Carla Ketlen Viera da Silva, de 16 anos. Por fim, o desfile ainda contou com uma reprodução nas dependências da escola citada no dia 22 de novembro como parte das comemorações do Novembro Negro e da extensão dos integrantes dos programas ‘Afro Vai nas Escolas’ e ‘AfroAtitude’ do Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília, que continuam buscando discutir uma nova visão do negro no Distrito Federal.
Observação: notícia publicada originalmente em 16 de dezembro de 2019 no site do Centro de Convivência Negra, que foi descontinuado.