Manifesto de repúdio e pesar ao trágico episódio que culminou com o extermínio de mais uma vida negra.
A Diretoria da Diversidade da Universidade de Brasília, por meio da sua Coordenação Negra, vem a público manifestar o seu repúdio e pesar ao trágico episódio, ocorrido no dia 19 de novembro, às vésperas do DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, em uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre/RS, que culminou com o extermínio de mais uma vida negra. João Alberto Silveira Freitas, negro, 49 anos, espancado até a morte, sem qualquer chance de defesa, por seguranças brancos da loja.
O assassinato foi gravado, “viralizou” nas redes sociais e se tornou matéria nos principais jornais. Mas, apesar da sensibilidade de uma grande maioria e da compreensão da violência praticada em razão do ódio racial histórico, no dia seguinte, pessoas brancas linchavam a figura de João Alberto nas redes, tentando destruir a imagem e a honra de quem não teve a oportunidade de se defender em vida e muito menos terá agora.
Para as instituições de segurança que atuaram no caso até o momento, não se trata de uma violência relacionada à discriminação racial, mas para a população negra não há nenhuma dúvida, porque se fosse um homem branco no lugar de João, certamente o tratamento dos seguranças e demais pessoas que assistiram o assassinato teria um outro modo operandi. Por outro lado, o vilipêndio pós-morte, demonstra que não basta eliminar o corpo negro, tem que destruí-lo por completo: sua história, imagem, honra, cultura e sinais de existência cidadã.
O negacionismo do racismo compete para reforçar e justificar as práticas de violências e impedir que o país se desenvolva enquanto nação, porque é impossível o crescimento e a evolução enquanto segmentos populacionais são abandonados pelo poder público propositadamente, para viver em situação de total abandono, sem educação, saúde, emprego e renda ou para morrer pelas mãos dos que perderam a vergonha de expelir o seu ódio publicamente ou se sentem legitimados em razão da impunidade.
Até quando teremos de lidar com atos discriminatórios a uma pessoa ou grupo, quando se associa as suas características físicas e étnicas a estigmas, estereótipos e preconceitos? Inacreditável, que teorias racialistas e evolucionistas sociais, ainda reverberem premissas da existência de uma superioridade racial.
Notas públicas de repúdio das mais variadas entidades se multiplicam a cada aniquilamento de uma vida negra. No entanto, a igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais e coletivos, o combate à discriminação e às demais formas de intolerância, constantes no Estatuto da Igualdade Racial, ainda não têm sua efetivação garantida pelo Estado Brasileiro.
A Diretoria da Diversidade e suas coordenações se unem aos que clamam por justiça pelos que morrem diariamente em razão da discriminação racial e reivindica o fiel e integral cumprimento do Estatuto da Igualdade Racial, para varrer do país o racismo, o fascismo e todas as formas de violência por causa da cor da pele e da etnia; para que homens e mulheres negros tenham seus direitos garantidos e respeitados; para que crianças e jovens negros tenham direito ao sonho e à liberdade de uma vida sem medo.
Por uma sociedade livre, justa e igual!
Vidas negras importam!
João Alberto, presente!
Observação: notícia publicada originalmente em 27 de novembro de 2020 no site da Diretoria da Diversidade, que foi substituída pela Secretaria de Direitos Humanos em 03/06/2022 pelo Ato da Reitoria Nº 0582/2022.